Ser o Autor da sua história

Ser o Autor da sua história

Considero o funcionamento da mente humana de extrema complexidade e, ao mesmo tempo, fascinante.

Nos meus tempos livres, dedico-me a estudar todo esse processo. Tenho grande admiração por um dos psicólogos mais destacados da atualidade, Augusto Cury.

Este desenvolveu a teoria da Inteligência Multifocal, que é uma das poucas teorias que investiga os quatro grandes processos da mente humana:

1. A construção dos pensamentos;

2. A transformação da energia psíquica;

3. A formação da consciência e dos alicerces do “eu”;

4. Os papéis da memória e a formação da história existencial.

A Inteligência Multifocal estuda os múltiplos focos do funcionamento da mente e do desenvolvimento da personalidade. O autor publicou um livro intitulado Inteligência Multifocal, que aborda de forma detalhada esta teoria. Recomendo que o leitor investigue sobre este tema se tem o desejo profundo de ser o autor da sua própria história.

Hoje vou fazer referência a uma lei da qualidade de vida desenvolvida por Augusto Cury que considero extraordinária e faz parte do PAIQ (Programa da Academia de Inteligência de Qualidade de Vida), um programa educacional, filósofo e psicológico, desenvolvido também pelo autor.

Este programa foi fundamentado na teoria da Inteligência Multifocal. Esta lei define-se por “Trabalhar os papéis da memória: Reeditar o filme do inconsciente”. A ciência pouco desvendou sobre os principais papéis da memória. A teoria da Inteligência Multifocal vem contribuir humildemente para corrigir importantes distorções nessa área fundamental.

Muitos cientistas afirmam que o registo da memória depende da vontade humana. No entanto, o registo é involuntário, realizado pelo fenómeno RAM (Registo Automático da Memória). Cada ideia, frustração, insegurança, alegria, tristeza, é registada na sua memória e fará parte da sua história. Infelizmente, por desconhecermos os papéis da memória, não sabemos trabalhar o mais complexo solo da nossa personalidade. A emoção determina a qualidade do registo. Quanto maior a carga emocional envolvida numa experiência, mais privilegiado será o registo e mais hipóteses terá de ser lido. Fazemos o registo de milhões de experiências por ano, mas resgatamos frequentemente as experiências com maior conteúdo emocional, normalmente as que contém uma carga negativa elevada.

Onde são registadas essas experiências? Inicialmente na Memória de Uso Contínuo (MUC), que é a memória utilizada nas atividades diárias, a memória consciente. As experiências com maior tensão são registadas no centro consciente e, a partir daí, serão lidas continuadamente. Com o passar do tempo, à medida que não são utilizadas com frequência, vão sendo transferidas para a zona periférica da memória chamada Memória Existencial (ME).

Por exemplo, alguém faz-lhe um elogio e essas palavras gentis ficam registadas na MUC. Inicialmente, lê-as diversas vezes, mas no dia seguinte estarão menos presentes. Na semana seguinte, é provável que já nem se lembre delas. No entanto, esse elogio não foi apagado, foi para a memória inconsciente ou Memória Existencial (ME). Continuarão a influenciar a sua personalidade, porém, com menor intensidade.

Vejamos agora outro exemplo. Foi convidado para fazer uma apresentação em público. No decorrer da conferência perdeu o fio condutor e ficou extremamente nervoso. A audiência reparou na sua insegurança e não conseguiu dizer o que pretendia. Essa experiência foi registada na MUC. Se conseguir reenquadrar essa experiência, criticando-a e compreendendo-a, ela será registada com menor intensidade. Caso contrário, se não conseguir proteger a sua memória, essa experiência será registada intensamente. Nesse caso, será lida com frequência, produzirá milhares de pensamentos angustiantes que serão registados, gerando uma zona de conflito, um trauma. Assim, ela não irá para a ME, ficará plantada na MUC como janela doentia.

A minha sugestão é que trabalhe os papéis da memória para não formar zonas de conflito.

1. Reeditar o filme do inconsciente;

2. Construir janelas paralelas às janelas doentias da memória.

Vou fazer referência somente ao ponto 1 – Reeditar o filme do inconsciente. Reeditar os arquivos da memória é registar novas experiências sobre as experiências negativas nos arquivos onde estas estão armazenadas.

Augusto Cury propõe a técnica de D.C.D (Duvidar, Criticar, Determinar), que estrutura e fortalece a liderança do “eu”. Esta deve ser realizada em silêncio, várias vezes ao dia, com convicção e coragem. Ela é constituída por três pilares que são três pérolas da inteligência humana: a pérola da filosofia, que é a arte de duvidar; a pérola da psicologia, que é a arte da crítica; a pérola da área de recursos humanos, que é a arte da determinação.

Tudo aquilo em que acredita, controla-o. Duvide de tudo aquilo em que acredita e que o perturba. A dúvida é o princípio da sabedoria. Critique cada ideia pessimista, preocupação excessiva e pensamento antecipatório. Cada pensamento negativo deve ser combatido. Determine ser alegre, seguro e forte. Determine não ser escravo dos seus conflitos. Não se esqueça que determinar só tem efeito se primeiro treinar a arte de duvidar e criticar.

Quando praticamos a técnica do D.C.D no momento em que estamos num foco de tensão, produzimos novas experiências que são registadas no local em que as experiências doentias estavam armazenadas.

Temos o dever de ser autores e protagonistas da nossa própria história. Como tal, é necessário fazer a gestão dos nossos pensamentos, administrar as nossas emoções, duvidar da nossa incapacidade, questionar a nossa fragilidade, avaliar os acontecimentos de diversos ângulos. Se não protegermos a nossa memória, não há como ter qualidade de vida.

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